Dupla sertaneja de São José do Xingu (MT) lança música para campanha ‘Y Ikatu Xingu

Os mineiros Renato, 34, e Eduardo, 32, fincaram raízes em São José do Xingu, no nordeste do Mato Grosso, na fronteira do Parque Indígena do Xingu, em 1989. Então adolescentes, trabalharam duro na fazenda dos pais, Ataualpa Vieira e Luzia Balbina Vieira. Mas sua grande paixão sempre foi música. Hoje, pecuaristas, a dupla sertaneja mais conhecida do município também está entrando na luta pela conservação ambiental do Rio Xingu.

Junto com outra dupla, Sandro Costa e Cassiano, eles compuseram uma canção-tema para a campanha ‘Y Ikatu Xingu, que leva o mesmo nome (ouça agora). “Reflorestar as nascentes é nossa missão / deixa brotar a semente da preservação”, diz a letra. Abaixo, a entrevista feita com os músicos.


Renato e Eduardo: “primeiro, é preciso conscientização”.

Quem é a dupla Renato e Eduardo?

Somos mineiros, dois entre três irmãos. Desde 1989, moramos em São José do Xingu, lugar onde temos uma propriedade. Sempre falamos de São José do Xingu em nossas entrevistas. Apesar de todas as dificuldades, a gente gosta muito de lá, a gente se considera de lá. Há seis anos, estamos trabalhando profissionalmente como músicos e agora nos preparamos para lançar nosso terceiro CD, que deve sair em junho próximo.

Contem um pouco da sua trajetória.

Nascemos em Minas Gerais e, em 1989, mudamos de São Miguel do Araguaia pra São José do Xingu para cuidar das terras que nosso pai comprou ali. Ele sempre incentivou a gente na música, gostava muito de musica sertaneja, mas, na época, precisávamos trabalhar nas fazendas. Quando fomos ficando mais velhos, resolvemos investir nesse sonho. Fizemos nosso primeiro CD apenas para recordação, mas a coisa deu certo e aí não paramos mais.

Como surgiu a idéia de compor uma música-tema para a campanha´Y Ikatu Xingu?

Recebemos um convite da vereadora Kelly Morgana [presidente da Câmara Municipal de São José do Xingu] para fazer a música e achamos importante dar nossa contribuição para a questão ambiental. Então, nos reunimos com outra dupla sertaneja do município, Sandro Costa e Cassiano, e compusemos ´Y Ikatu Xingu a “quatro mãos”.

Como vocês vêem a questão ambiental no Mato Grosso?

Quando nosso pai foi pra lá não tinha essa conscientização sobre desmatamento, como aproveitar melhor a região. A gente que é mais novo tem melhor essa consciência, sabe que é importante, sabe que tem que ter preservação, que temos que procurar outras alternativas pra sobreviver sem superexplorar a natureza. Em casa mesmo, temos trabalhos de combate ao assoreamento e acho que esse movimento só tende a crescer.

O que cidadãos como Renato e Eduardo podem fazer pra transformar essa realidade de degradação?

Em nome dos produtores rurais do qual fazemos parte, eu acho que primeiramente é preciso conscientização. Acho errada a postura de alguns órgãos quando nos multam com R$ 30 mil, R$ 40 mil por coisas feitas há mais de 30 anos. Muitos de nós já pegamos áreas abertas, desmatadas. Tem que fazer como o ISA [Instituto Socioambiental] está fazendo: conscientizar, conversar, fazer parcerias. Porque hoje sabemos que as soluções têm de ser encontradas conjuntamente. Hoje em dia, as pessoas não são mais como antigamente, é preciso encontrar maneiras mais fáceis pra gerar soluções. Trabalhar, conversar, a gente sabe que assim os resultados vão chegar. Mas a conscientização é importante, é o primeiro passo.

O que vocês têm a dizer para os “conterrâneos” em São José do Xingu, onde está acontecendo projetos e ações da campanha ´Y Ikatu Xingu?

Primeiramente, damos os parabéns pela iniciativa. É uma coisa nova, a gente não pensava nisso até pouco tempo. Acho que vai dar certo. Incentivo todos a participarem pois isso vai dar retorno para o nosso município e para as nascentes do Rio Xingu. Dos rios que conhecemos, e olha que são muitos, o Xingu é um dos mais bonitos, talvez por causa do Parque Indígena do Xingu, por causa da preservação. Não podemos deixar que ele seja destruído.

Que mensagem a dupla deixaria aos ouvintes da música ´Y Ikatu Xingu?

Ouçam com atenção a letra e a melodia e vejam o que ela pode passar para cada um. A música fala da natureza, do rio, da dimensão do Xingu, que, com tanta água, fica inocente nas mãos do ser humano. Ouçam com atenção e imaginem o que cada pessoa pode fazer por ele, conservá-lo para sempre.

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