Cerca de 10 hectares de matas ciliares devem ser protegidos e reflorestados nos próximos meses por parceria articulada por agentes socioambientais e campanha ‘Y Ikatu Xingu. Mais produtores rurais estão manifestando interesse na idéia. Viveiro local já abriga oito mil mudas de espécies nativas. Mobilização também marcou presença na primeira Exposição Agropecuária do município.
Por Oswaldo Braga de Souza, do ISA.
Uma pequena iniciativa nascida na formação de agentes socioambientais promovida pela campanha ‘Y Ikatu Xingu ganhou envergadura, reuniu parceiros e promete espalhar a idéia de reflorestar as matas de beira de rio de Gaúcha do Norte, cerca de 550 quilômetros ao norte de Cuiabá. O projeto Pau D´alho Eu Te Quero Vivo vai começar a recuperar, nos próximos meses, 10 hectares das margens dos córregos Pau D´álho e Cateto, afluentes do Culuene, um dos principais formadores do Rio Xingu. Trata-se de uma parceria entre o Departamento de Agricultura da Prefeitura, a Empaer (Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural) e o Instituto Socioambiental (ISA), entre outros.
Córrego Pau D´alho atravessa Gaúcha do Norte.
A idéia foi concebida, a princípio em pequena escala, como uma das atividades práticas que deveria ser desenvolvida durante a formação – ocorrida em Canarana, entre dezembro de 2005 e outubro de 2006 – por três participantes de Gaúcha do Norte: Sidnei Bueno de Miranda, chefe do Departamento de Agricultura, Clodoaldo Maccari, técnico da Empaer, e a professora Sílvia Faitão. A partir do interesse demonstrado por vários produtores rurais de participar e o empenho demonstrado pelos três, a campanha ‘Y Ikatu Xingu resolveu incluir Gaúcha do Norte entre os locais atendidos por um projeto de recuperação de matas ciliares patrocinado pela União Européia e a Fundação Blue Moon.
Adolar Maccari, responsável pelo viveiro onde já estão sendo cultivadas mais de 20 espécies nativas que serão usadas nas áreas a ser reflorestadas.
A parceria proporcionou ao viveiro municipal um sistema mais eficiente de irrigação e a reforma da casa de sementes. O local já abriga oito mil mudas de 20 espécies nativas, como o pequi, o ipê amarelo, o jatobá e a peroba. “Na área, já estavam sendo cultivadas 130 mil mudas de seringueiras de um programa anterior da prefeitura para implantação de seringais no município. Cerca de 40 mil mudas de seringa também serão usadas para o reflorestamento”, explica Sidnei Miranda.
“O trabalho é de fundamental importância porque o córrego Pau D´alho passa dentro da cidade e está sendo assoreado. Estamos orientando os agricultores a fazerem bacias de contenção para evitar o problema”, informa o prefeito Edson Wegner. Ele acrescenta que os moradores estão mais conscientes sobre o problema do desmatamento na beira dos rios, mas falta informação sobre como e quanto deve ser preservado nessas áreas. “Precisamos divulgar essas informações. Outras esferas de governo devem agir também”. Ele alerta que muitos projetos governamentais de reflorestamento são aprovados com utilização de espécies do Sudeste do País, quando é muito mais barato plantar espécies nativas.
Córrego está sofrendo com a erosão e o assoreamento. Prefeitura está orientando produtores e deve construir cacimbas para contenção da água da chuva.
Festival de Sementes
O projeto está comprando sementes de três produtores rurais. Já coletou cerca de 150 quilos de sementes, em parte com a ajuda da 5ª série matutina da escola municipal e da 7ª série da escola estadual de Gaúcha. Os alunos estão participando de um “festival de sementes” que acaba no final do ano. A turma que recolher a maior quantidade de material passará um dia no clube da cidade, com direito a gincana, almoço, distribuição de prêmios e brindes. Um festival semelhante ocorreu em Canarana, no ano passado, também por iniciativa dos agentes socioambientais, e conseguiu reunir mais de meia tonelada de sementes.
Uma agrofloresta está sendo implantada na Escola Estadual Gervásio dos Santos Costa pelo projeto. Ela será irrigada com água reaproveitada. Além de ensinar e estimular os alunos a implantar sistemas agroflorestais e reforçar a merenda escolar, o objetivo é utilizar a área para trabalhar disciplinas como biologia, educação ambiental e ciências.
“O projeto precisa de algum tempo para coleta, cultivo de mudas e plantio. São atividades paralelas que vão são desenvolvidas em um processo gradativo. Quando aderimos à campanha, sabíamos que o trabalho seria demorado. Queremos envolver formadores de opinião e usar o Pau D´alho como uma experiência-piloto, para, a partir daí, abrangermos outros córregos”, explica Clodoaldo Maccari. Ele confirma que mais proprietários, além dos oito que já aderiram à iniciativa, estão procurando informar-se e demonstram interesse em participar.
Parte da área que deverá ser reflorestada na Fazenda Paraíso, uma das participantes do projeto.
Maria Lurdes Wessner está participando do trabalho vai recuperar três hectares de sua Fazenda Paraíso, de 314 hectares, na beira do Córrego Pau D´alho. Cerca de 0,8 hectares já estão cercados e o plantio de espécies nativas no local deve começar nos próximos meses. Quando ela e a família compraram a propriedade, há nove anos, 90% dela, incluindo alguns trechos de Áreas de Preservação Permanente (APPs), já estavam desmatados. “Nós já queríamos recuperar antes. A água é um bem básico que todos devem preservar. Queremos andar conforme a Lei”, afirma. A produtora de gado e soja luta há quatro anos para cumprir as exigências necessárias para conseguir a Licença Ambiental Única (LAU) e compensar a área desmatada com a compra de outras terras florestadas. Ela reclama que há excesso de burocracia para conseguir a regularização ambiental.
Maria Wessner. Agricultora ja queria reflorestar antes do início do projeto e luta para conseguir a regularização ambiental de sua propriedade.
Recentemente, os três agentes socioambientais de Gaúcha do Norte obtiveram mais uma conquista: o projeto Recuperação Ambiental em Nova Aliança, em parceria com a Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Nova Aliança, uma comunidade rural do município, foi aprovado pelo Fundo Xingu. Cerca de 30 hectares de matas ciliares deverão ser recuperados com a iniciativa, incluindo áreas de nascentes. O Fundo foi criado este ano para apoiar a recuperação de nascentes e matas ciliares degradadas em comunidades rurais e assentamentos na Bacia do Xingu no Mato Grosso. Os recursos vêm da empresa de seguros Icatu Hartford, que resolveu participar da Campanha ‘Y Ikatu Xingu.
Mobilização marca presença na I ExpoGaúcha
A campanha montou um pequeno estande na I Exposição Agropecuária de Gaúcha do Norte, entre os dias 15 e 20 de novembro. No local, foram distribuídos materiais de divulgação, como revistas, cartilhas e mapas. Também estavam expostas algumas mudas de espécies nativas que vem sendo cultivadas no viveiro municipal. A música-tema da campanha, de autoria da dupla sertaneja Renato e Eduardo, de São José do Xingu, tocou no evento várias vezes. Só no dia da abertura, cerca de duas mil pessoas estiveram presentes. Promovida pela prefeitura, a festa contou com rodeio, festival e shows de música, barracas de comidas típicas e estandes de empresas de insumos agropecuários.
Extande da campanha na I ExpoGaúcha. (E-D) Prefeito Edson Wegner, Sidnei Miranda e Clodoaldo Maccari.
2 Comentários
eu preciso de ajuda para recuperar as nossas nascentes e rios aqui do nosso Município onde conseguir sementes e mudas para iniciar este trabalho.
Boa noite,
Gostaria de faz a recuperação das margens do Rio de minha cidade e gostaria de receber alguma informção com posso faz.Espero um retorno de vocês.
Att.
Joselene