Produtores de Marcelândia se preocupam com época de queimadas

Membros de projeto de recuperação de áreas degradadas temem que fogo destrua os plantios já realizados

Por Maria Elisa Corrêa, ICV

Entre os meses de junho e setembro é proibido usar fogo para limpeza de pasto. Este fato todo produtor rural já sabe, mesmo assim os índices de incêndios nos municípios do norte de Mato Grosso nos meses de seca ainda é muito grande.


Área em recuperação no Rio Matrinchã. Foto: ICV

Em Marcelândia, produtores que fazem parte do projeto de proteção e recuperação de nascentes e matas ciliares na sub-bacia do Rio Manito, afluente do rio Xingu, participaram no dia 07de maio de uma reunião com a técnica do projeto, Diana Suzete e demais parceiros.

A reunião foi pautada pela preocupação dos produtores com o risco de que as áreas que estão sendo recuperadas sofram danos por causa das queimadas sem controle. Para Seu Elineu Lopes, a situação se complica por causa da falta de compreensão dos órgãos públicos.

“Eu sempre faço aceiro na minha propriedade. Esse mês já vou fazer de novo, mas sempre com medo de que o Ibama apareça, porque eles dizem que eu estou tirando parte da vegetação e não percebem que eu estou tentando proteger o que tenho”, ressalta o proprietário. Seu Elineu está recuperando um hectare de mata ciliar do rio Matrinchã, que passa pelo quintal de sua casa.

Para a técnica do projeto, Diana Suzete, é muito bom ver que os participantes do projeto estão preocupados com a questão do fogo. “É muitíssimo importante que eles se preocupem, pois depende deles a maior parte do sucesso do trabalho de recuperação, se eles já estão sensibilizados e principalmente preocupados buscando alternativas ao uso do fogo, já é mais de meio caminho andado”.


Represa em recuperação em Marcelândia. Foto: ICV

De acordo com Diana, o fogo frequentemente mata as plantas e a regeneração natural nos trabalhos de recuperação. Além disso, elimina quase toda a matéria orgânica do solo, deixando-o desprotegido e sem vida. Quando a matéria orgânica é queimada, restam as cinzas sobre o solo. Nas cinzas está apenas parte dos nutrientes, que são alimento para as plantas. Ao chover, a água leva as cinzas, deixando o solo cada vez mais pobre.

Para tentar amenizar os impactos das queimadas no município, será realizado no dia 01 de julho deste ano em Marcelândia um mutirão para ensinar técnicas de queimada controlada. A atividade será realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, e acontece em vários municípios que fazem parte da bacia do Rio Xingu.

Na ocasião estarão presentes agricultoras e agricultores, representantes da Sema – Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Ibama – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais, Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, poder público municipal e Promotoria Pública. O objetivo do mutirão é levar os órgãos públicos até os agricultores e agricultoras para esclarecerem sua função e como vão agir em caso de incêndio.

“Acredito que o mutirão vai ajudar no andamento do projeto, pois os proprietários e a sociedade estarão reunidos buscando alternativas ao uso do fogo, e podendo falar e esclarecer suas dúvidas sobre o tema, como evitar o uso do fogo desnecessário, fazer acordos com os vizinhos, proteger as propriedades com aceiros”, acrescenta Diana.

Projeto

O Projeto de proteção e recuperação de nascentes e matas ciliares na sub-bacia do Rio Manissauá-miçu – BR 163, MT, faz parte das ações realizadas dentro da Campanha Y’ Ikatu Xingu, e é financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA.

Entre os objetivos do projeto está a recuperação de 50 hectares de áreas degradadas, sendo nascentes, matas ciliares e uma voçoroca nos rios Matrinchã, Bagres e Beija-flor, afluentes do rio Manissauá-miçu, mais conhecido como Manito.

Ao todo, o projeto abrange 17 propriedades, sendo que seis já fizeram o isolamento da área a ser recuperada e realizaram o plantio de 9 mil mudas de espécies nativas como o ingá, o buriti, a pata de vaca, jenipapo, jatobá e itaúba.

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