Originalidade da Reciclap, que faz artesanato com pneus, será exposta na I Feira de Iniciativas Socioambientais, que acontecerá em Canarana, de 16 a 18 de outubro.

Por Sara Nanni com Renata Soares Pinheiro, do ISA

Rubem Machry nasceu em Três Passos, no Rio Grande do Sul, e mudou-se para Canarana em meados de 1980 para trabalhar como agricultor. Por causa das dificuldades encontradas naquela época, retomou sua antiga profissão de artista plástico, uma herança familiar: sua mãe fabricava vasos com pneus de charrete.

Machry já está há 25 anos nesse ramo e, além de vasos, produz diversos modelos de poltronas, conjuntos de cadeiras e mesa, camas, balanços e etc. Desde 1993, quando passou a exercer exclusivamente essa profissão, já produziu milhares de peças com os mais de 60 mil pneus recuperados. Machry estará com um estande na I Feira de Iniciativas Socioambientais, que acontecerá de 16 a 18 de outubro, no município de Canarana, no Mato Grosso.

Esse evento contará com a participação de produtores e trabalhadores rurais, movimentos sociais, pesquisadores, professores, estudantes, governos, organizações da sociedade civil e comunidades indígenas, que estão de alguma forma empenhados na conservação dos recursos naturais da Bacia do Xingu, em especial na recuperação das matas das beiras de rio. Hoje, com o aprimoramento de sua arte e a melhora na produção, ele aproveita quase 100% dos pneus já usados. Uma grande contribuição ao meio ambiente, já que sem essa atividade eles iriam para o lixo ou seriam queimados. Machry recolhe a matéria-prima de seu trabalho em lixões, borracharias, rodovias e até beiras de rios.

Depois da captação do material, começa o trabalho de artista. Primeiro ele corta os pneus de acordo com a finalidade a que serão destinados, em seguida as partes cortadas são unidas com grampos industriais. “Nessa hora, tudo pode mudar, já que sempre há novas idéias e modelos de peças”, comenta o artesão. O próximo passo é pintar, com um tipo de tinta especial para esse material. Os objetos podem ficar coloridos em tons variados, por exemplo, imitando metal ou serem deixados na cor natural. As peças recebem um tratamento especial com tinta para que não sujem a roupa das pessoas.

Utilizando o slogan “do lixo ao luxo”, ele participa de várias feiras e eventos em diversas cidades do país, divulgando seu trabalho para que outros artesãos também possam ganhar a vida através da reciclagem dos pneus. Essa é uma atividade viável e ecologicamente correta que gera emprego, além de contribuir para a eliminação do mosquito da dengue.

II Encontro Nascentes do Xingu

Paralelamente à I Feira de Iniciativas Socioambientais, acontecerá o II Encontro Nascentes do Xingu para debater os rumos e os desafios que a Campanha Y Ikatu Xingu terá pela frente. Mesas redondas, palestras, mini-cursos e oficinas irão proporcionar a discussão sobre temas relevantes para a população que vive na Bacia do Xingu. Esses eventos serão realizados pelo ISA e a Prefeitura de Canarana, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, Instituto Centro de Vida (ICV), Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), com apoio da Fundação Rainforest da Noruega, União Européia, Usaid/The Nature Conservancy e Fundação Doen.

O I Encontro Nascentes do Xingu aconteceu em outubro de 2004, também em Canarana, e reuniu pecuaristas, indígenas, agricultores familiares, organizações não-governamentais, governamentais e de pesquisa e poder público para debaterem soluções para reverter o quadro de degradação das nascentes do Rio Xingu. E foi naquele momento que nasceu a Campanha Y Ikatu Xingu (que significa “água boa, água limpa do Xingu”, na língua dos Kamaiurá, um dos povos que habita o Parque Indígena do Xingu) para proteger e recuperar as nascentes e as matas de beira de rio do Xingu.

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Sara Nanni
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