Agricultor de Canarana, Édemo Corrêa, consorcia a produção de pequi com a criação de gado

Experiências inovadoras de agricultores da região da Bacia do Xingu, no Mato Grosso, poderão ser conhecidas na I Feira de Iniciativas Socioambientais, que acontecerá de 16 a 18 de outubro.

Por Sara Nanni com colaboração de Renata Soares Pinheiro, do ISA

Édemo Corrêa chegou a Canarana em 1980, quando adquiriu uma propriedade de 90 hectares, o Sítio Recanto Água Limpa, onde, além de criar gado, plantou arroz e milho por mais de dez anos. Em 1995, iniciou a plantação de pequi – árvore que é símbolo do Cerrado – e hoje possui 5 mil pés de 20 variedades diferentes. A experiência de sucesso desse agricultor é parte da I Feira de Iniciativas Socioambientais, que acontecerá em Canarana, no Mato Grosso, de 16 a 18 de outubro. O objetivo dessa feira é mostrar projetos e iniciativas que aliem conservação dos recursos naturais da Bacia do Xingu – em especial das matas ciliares – e alternativas econômicas sustentáveis. Haverá ainda estandes de outras 35 iniciativas divididas nas categorias: Recuperação Florestal, Adequação Socioambiental, Educação Socioambiental, Alternativas Econômicas Sustentáveis e Iniciativas Socioambientais dos Povos Indígenas.

O principal diferencial dessa iniciativa está no consórcio com o pasto: à sombra dos pés de pequi, Édemo cria cem bezerros. “Se você tem uma árvore que lhe dá lucro, você não a derruba. Tem árvore que dá mais de dois mil frutos por ano, o que pode significar uma bezerra por ano de renda. E dá pra você consorciar o gado com o pequi, e deixar aquela floresta no lugar”, avalia o agricultor.

No ano passado, o viveiro Recanto Água Limpa produziu 30 mil mudas. Em 2008, Édemo pretende plantar mais 3 mil pés de pequi e produzir 50 mil mudas. Ele calcula que já vendeu mais de 50 mil mudas desde 1997 em Brasília, Goiânia e Bela Vista de Goiás.


Viveiro Recanto Água Limpa produz cerca de 30 mil mudas de espécies nativas por ano

O negócio tem sido lucrativo: um pé de pequi com 10 anos produz de 15 a 20 caixas, cada uma a R$ 25,00. Isso equivale ao valor de um bezerro, mas com a diferença que uma árvore não consome alimentos nem remédios como acontece com o gado. Cada hectare pode chegar a produzir 100 pés de pequi.

Sistemas Agroflorestais

Em 2006, Édemo participou do processo de formação de agentes socioambientais, realizado pela campanha Y Ikatu Xingu e seus parceiros, na região das cabeceiras do Rio Xingu, e se comprometeu a implementar uma série de ações em sua propriedade. Ele cercou as matas ciliares e passou a enriquecê-las através dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) – plantio em consórcio de espécies de crescimento rápido com o de espécies de crescimento lento, para sombrear as mudas e enriquecer o solo com matéria orgânica. Junto dos pés de pequi, ele planta mangaba, cagaita, baru, murici, araticum e jatobá. “Meu sonho é ver os campos do cerrado cobertos de pés de pequi”.

Para difundir seu conhecimento e suas experiências, Édemo realiza palestras e seminários sobre cultivo de frutos do Cerrado na Universidade de Brasília (UnB), na Embrapa e nos municípios de São Félix do Araguaia e Confresa. Em Confresa, onde há mais de 36 mil assentados, ele dissemina a idéia de combinar pasto com pequi nos assentamentos para aumentar a produtividade e criar uma nova fonte de renda para as famílias.

Principais vantagens do pequi

O pequi é um produto sustentável alternativo para a geração de renda em propriedades rurais familiares. Além de poder ser produzido em consórcio com pastagens, o mercado consumidor parece suportar aumentos de oferta. Segundo o estudo “Levantamento, Estudo e Análise de Viabilidade Econômica e do Mercado de Produtos Agroflorestais, Expectativa de Renda e Investimentos”, coordenado pelo ISA e publicado em 2006, apenas o CEASA de Goiânia tem uma demanda de 75 mil caixas por ano, sendo que a produção de Canarana e dos municípios vizinhos é de 15 mil.

Também os custos de implantação e manutenção do cultivo do pequi são baixos e há boa adaptação às diversas condições de clima, solo e umidade presentes na região Centro-Oeste. E uma das grandes promessas do Pequi é a sua integração à cadeia de oferta de óleo para biodiesel, sendo a sua produtividade superior a da soja.

II Encontro Nascentes do Xingu

Junto com a I Feira de Iniciativas Socioambientais acontecerá também o II Encontro Nascentes do Xingu. Pretende-se com esse evento debater os rumos e os desafios que a campanha Y Ikatu Xingu, que está completando quatro anos, terá pela frente. Temas relevantes para a população que vive na Bacia do Xingu serão discutidos através de mesas redondas, palestras, mini-cursos e oficinas com especialistas. A realização é do ISA e da Prefeitura de Canarana, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, Instituto Centro de Vida (ICV), Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), com apoio da Fundação Rainforest da Noruega, União Européia, Usaid/The Nature Conservancy e Fundação Doen.

O I Encontro Nascentes do Xingu aconteceu em outubro de 2004, também em Canarana, e reuniu pecuaristas, indígenas, agricultores familiares, organizações não-governamentais, governamentais e de pesquisa e poder público para buscar soluções que revertam o quadro de degradação das nascentes do Rio Xingu. Foi naquele momento que também nasceu a campanha Y Ikatu Xingu (que significa “água boa, água limpa do Xingu”, na língua dos Kamaiurá, um dos povos que habita o Parque Indígena do Xingu) para proteger e recuperar as nascentes e as matas de beira de rio do Xingu.


Informações para a imprensa:

Sara Nanni
Assessora de Imprensa – Programa Xingu
Instituto Socioambiental
sarananni@socioambiental.org
tel: (66) 3478 3491; 9231 3665

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