Agrofloresta é instrumento pedagógico para professores da região das cabeceiras do Xingu

Durante oficina realizada em Canarana, MT, de 5 a 7 de fevereiro, promovida pela Campanha Y Ikatu Xingu, 31 educadores de escolas públicas e particulares vindos de seis municipios das cabeceiras do Xingu receberam informações sobre sistemas agroflorestais e elaboraram o planejamento das iniciativas socioambientais que querem desenvolver com seus alunos em 2009.

Por Sara Nanni, do ISA

Durante três dias – de 5 a 7 de fevereiro – 31 professores de escolas públicas e particulares de Mato Grosso reuniram-se na cidade de Canarana para participar de mais uma oficina do curso de formação de Agentes Educadores Socioambientais, promovido pela Campanha Y Ikatu Xingu, dentro do Projeto Governança Florestal. Entre atividades lúdicas, teóricas e práticas de campo, os professores dos municípios de Água Boa, Ribeirão Cascalheira, Gaúcha do Norte, Querência, Campinápolis e Canarana, receberam informações sobre o manejo de SAFs (Sistemas Agroflorestais) e a dinâmica das florestas, além de elaborarem planos de aula e de ação para as atividades que serão desenvolvidas até a próxima oficina, marcada para julho deste ano, e que são chamadas de atividades entre-módulos. “Trata-se de um processo educativo de apoio ao desenvolvimento dos educadores e de suas iniciativas e está focado em dois aspectos principais: os princípios da agrofloresta e a reflexão sobre o papel do educador na formação das crianças”, comentam Cristina Velásquez e Luciana Akeme Deluci, do ISA (Instituto Socioambiental), facilitadoras do curso. O trabalho conta ainda com a assessoria da pedagoga social Regina Erismann, do Instituto Ecosocial, e do agrônomo, Osvaldo Sousa.

No início da oficina, os professores fizeram um exercício para elencar o que auxilia e o que não auxilia a implementação e o desenvolvimento de iniciativas socioambientais, tendo como base a experiência que tiveram no entre-módulo, após a realização da primeira oficina, em julho do ano passado. Entre elas destacaram-se: gincana de sementes, canteiro medicinal, produção de mudas, mostra ambiental, horta e visitas a viveiros. Os professores identificaram que a falta de parcerias, de consciência sobre a preservação ambiental, de interesse dos gestores, de apoio para angariar recursos e o fato de o calendário escolar estabelecer férias em período de chuvas (quando é possível plantar) não auxiliam a implementação de iniciativas socioambientais. Já o apoio dos colegas, a existência de recursos materiais, o interesse e a motivação dos alunos, a união do grupo e a persistência são aspectos que contribuem para que as iniciativas sejam bem-sucedidas. “Esse exercício tem a intenção de valorizar a experiência dos professores, para que eles percebam que as ações deles fazem sentido e têm importância”, explica Regina Erismann.

Luciana Deluci do ISA (à direita, de óculos) durante planejamento com os professores

Nas duas primeiras noites de curso, os educadores tiveram a oportunidade de falar sobre as iniciativas que desenvolveram nos últimos meses. A professora Mônica Eunice dos Santos, da escola Coronel Vanick, de Canarana, contou que ela e seus alunos fizeram o reflorestamento de uma nascente que fica a dois quilômetros da escola. Nos próximos meses, Mônica informa que quer dar início à construção de um viveiro para continuar fazendo reflorestamentos e arborizar as avenidas do bairro Culuene, onde fica a escola. “Até mesmo alguns fazendeiros estão procurando a gente em busca de mudas para reflorestar algumas áreas”, disse.
No Projeto de Assentamento (PA) Pingo D’água, em Querência, Janete Mello e Francieli Daiane dos Santos contaram aos outros professores que organizaram uma horta na escola com os alunos. “Ainda sentimos a necessidade de envolver mais os pais, porque muitos ainda não aprovam a iniciativa”. Ela explica que farão um bosque utilizando princípios da agrofloresta, em uma área que será escolhida dentro do assentamento e próxima da escola.

Canteiros agroflorestais

Na oficina anterior, os professores plantaram canteiros agroflorestais na Casa da Criança, que puderam ser revisitados agora em práticas de campo acompanhados pelo técnico do ISA, Osvaldo Sousa. Divididos em grupos, os educadores manejaram os canteiros, recebendo instruções sobre agrofloresta. Muitos dos participantes ficaram surpresos com o crescimento das árvores plantadas com a técnica de “muvuca”, na qual as sementes são misturadas e plantadas em pequenas covas. A maioria ainda não havia visto o resultado do plantio que aconteceu em julho do ano passado. “Temos o costume de imaginar que o que a gente planta não vai vingar. Mas aqui nesses canteiros podemos ver que a teoria funcionou na prática”, constatou a professora Angélica Janaína Alves, de Gaúcha do Norte, que com os demais participantes também podou e enriqueceu os canteiros com novas sementes.

Professores fazem manejo em canteiros agroflorestais

Os educadores realizaram ainda um trabalho de observação das plantas, detalhando suas características e imaginando todo o seu processo de desenvolvimento no tempo. “A intenção foi a de realizar uma observação que aguça a percepção para os fenômenos da vida de uma forma integrada e não fragmentada”, explicou Regina Erismann.

Para aprofundar ainda mais os conhecimentos sobre sistemas agroflorestais, os professores foram levados para uma chácara, em Canarana, de propriedade do Sr. Ten Caten. Ali, em uma área em processo de regeneração, eles receberam informações sobre os conceitos fundamentais que alicerçam o sistema agroflorestal dirigido pela sucessão natural das espécies.

Planejamento inclui o SAF

Durante a oficina, os professores, em duplas, elaboraram um plano de aula com base no Sistema Agroflorestal para conteúdos de diferentes disciplinas e níveis de escolaridade. Os objetivos foram visualizar os SAFs como um espaço pedagógico e interdisciplinar, refletir sobre a atuação profissional na prática escolar e levantar os aprendizados sobre o conteúdo e a metodologia durante a elaboração e apresentação do plano de aula. O professor Vanderlande J. Silva trabalhará em suas aulas a questão da pavimentação de um córrego no município de Campinápolis. Ele explicou que os alunos serão levados a fazer uma reflexão sobre os aspectos positivos e negativos dessa obra, que, segundo ele, pode representar uma ameaça à qualidade de vida no município. Um resgate histórico do córrego será feito por meio de exposição de fotos.

Os educadores também fizeram o planejamento das iniciativas socioambientais que desenvolverão nos próximos meses. Aline Goulart Beyer, Jorcileny Matias Rodrigues e Gracielly Cristiny de Oliveira e Souza, da Escola Família Agrícola, de Querência, trabalharão com os alunos da educação infantil a sensibilização quanto à preservação do meio ambiente através de observações de sistemas agroflorestais e visitas à escola agrícola. Quinze iniciativas diferentes estão sendo desenvolvidas nos seis municípios envolvidos.

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