Sabine Righetti, especial para a Folha de São Paulo
Onde há soja e gado, pode haver também uma rica biodiversidade. Por estranha que pareça, essa é a conclusão do trabalho do biólogo Oswaldo de Carvalho Júnior, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)
O cientista está realizando, desde o começo do ano, um mapeamento dos animais de médio e grande porte que vivem em quatro grandes fazendas nas cabeceiras do rio Xingu, no Mato Grosso -uma delas do tamanho do município de São Paulo.
Segundo Carvalho Júnior, a riqueza de fauna nas florestas dessas fazendas é grande. Para ele, as propriedades privadas são essenciais para a conservação da biodiversidade, pois grande parte da mata hoje está nessas áreas.
Parceria
O grupo de Carvalho Júnior desenvolveu uma metodologia que conta com a colaboração de quem vive o dia a dia das florestas.
Tradicionalmente, o monitoramento de animais é feito por meio de censos. Os cientistas percorrem trilhas nas florestas e coletam sinais da presença dos bichos.
O biólogo do Ipam resolveu complementar essa metodologia e produziu um livreto que distribui nas fazendas estudadas. O material tem imagens de 25 mamíferos, como onça-pintada e tamanduás, e suas pegadas.
A partir daí, os pesquisadores visitam as fazendas para verificar, com os funcionários, quais animais ou pegadas foram notificadas, e em quais circunstâncias.
A colaboração tem funcionado, e os pesquisadores estão conseguindo ampliar seu conhecimento sobre a fauna. “Fazer isso sem os funcionários das fazendas seria impossível”, diz o biólogo.
Projeção
Mas essa é a primeira etapa do trabalho. “Uma coisa é identificar os bichos na região, usando o que sobrou de mata [cerca de 60% da floresta original] como refúgio. Outra é entender qual é o futuro desses bichos”, explica.
O biólogo pretende eleger cinco espécies para avaliar suas populações futuras, inclusive considerando possíveis variações no tamanho da floresta. A ideia é projetar a densidade atual em cenários da região para saber qual será a população desses animais em 50 anos.
“Isso significa descobrir se a espécie vai continuar sobrevivendo ou se estará extinta localmente”, explica.
“A pesquisa é importante não só para conhecer a fauna da região, mas para gerar informações que podem ajudar na formulação de políticas públicas”, afirma o biólogo.
Um Comentário
muito bom o post